O Silêncio Revela

Pode reparar, existe um momento — ele aparece — em que o sorriso se desfaz como açúcar na chuva. E então, só então, surge aquilo que é verdadeiramente nosso: o silêncio. Não o silêncio vazio, mas o silêncio que não se pode dizer.

O sorriso, ah, o sorriso é a cortesia que oferecemos ao mundo. É nossa primeira mentira gentil, nossa máscara mais bem-educada. Sorrir é fácil, basta contrair alguns músculos do rosto e pronto: criamos uma ponte, um convite, uma falsa intimidade. Quem sorri demais conhece bem a arte de não se mostrar.

Mas o silêncio… o silêncio é território íntimo. Nele habitam nossas verdades não domesticadas, nossos medos sem nome, nossa solidão essencial. O silêncio não mente; ele simplesmente é. É substância pura, é o que resta quando tiramos todas as palavras dispensáveis, todos os gestos automáticos, todos os sorrisos de conveniência.

Quem entende meu silêncio compreende que às vezes não há o que dizer porque o que sinto é maior que a linguagem. Compreende que há momentos em que a alma está ocupada demais existindo para conseguir explicar-se. Quem entende meu silêncio sabe que nem tudo precisa ser dito para ser comunicado.

É preciso uma coragem especial para habitar o silêncio do outro. É preciso não ter medo do vazio aparente, não ter pressa de preencher os espaços em branco com palavras desnecessárias. É preciso ter a paciência de quem planta: saber que algumas coisas só crescem no escuro, só florescem quando ninguém está olhando.

O silêncio revela mais do que qualquer confissão. No silêncio, somos nós mesmos sem legendas, sem traduções, sem explicações. Somos nossa respiração, nossa hesitação, nossa presença crua. O silêncio é nossa nudez verdadeira.

E talvez seja por isso que preferimos os sorrisos: eles são mais seguros, mais controláveis. O sorriso é uma escolha; o silêncio, às vezes, é uma entrega. No sorriso, ainda somos donos da situação. No silêncio, somos apenas humanos frágeis, verdadeiros, impossíveis de decifrar completamente.

Quem me conhece pelos sorrisos conhece minha educação, minha gentileza, minha capacidade de conviver. Quem entende meu silêncio conhece minha alma — e isso, isso é quase tudo.


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