
A coragem nem sempre se apresenta com atitudes barulhentas. Às vezes ela é só um sussurro firme que diz não, mesmo quando o coração pede para cedermos. Esses momentos, às vezes, dói na gente, porque negar é uma forma de cortarmos a corda que nos prende ao costume, é desapontar expectativas, é desafiar aquela vontade de ser sempre agradável. Mas esse não, quando é dito baseado em uma reflexão a respeito de qual seria a melhor decisão a ser tomada, ele se torna um gesto de lealdade.
Pode parecer estranho afirmar que dizer um não é ser leal, mas é, pois não foi uma mera negação para causar dor em alguém, foi uma atitude tomada a partir de uma reflexão. Muitas vezes, precisamos fazer isso, porque dizer tantos “sim” já nos sugou demais. Em outros casos, o não é somente a melhor decisão para aquela situação.
Quando o “não” se faz necessário por vivermos uma situação tóxica, dizer esse “não” é como podar um galho para a árvore respirar melhor, para que o sol possa tocar seu tronco. A tesoura pode incomodar, mas a árvore irá se recuperar e novas folhagens irão crescer e as flores e os frutos logo virão. Não somos árvores, mas -se observarmos- o processo é bem parecido.
A vida não é um conto de fadas. É preciso aceitar isso. Pessoas boas e más existem e estão por todos os lados. Às vezes precisamos abrir a porta; em outros, é o momento de fechar a porta antes que a “noite” entre, e fazemos isso não por medo ou falta de coragem e sim por cuidado. Precisamos reconhecer quando o que nos pede passagem não merece o nosso espaço, pois o nosso espaço é uma coisa sagrada.
Então, sim, na nossa vida cotidiana, nossa coragem mora em recusar um favor que só servirá para- lá na frente- nos esmagar por meio de cobranças. Em alguns casos, é ao não responder uma mensagem que vai reabrir feridas ou em não aceitar migalhas quando em troca precisamos oferecer um banquete. Ela pode ainda residir no ato de escolher o descanso em vez de mais uma tarefa só para não decepcionar alguém. Ou ela esteja na atitude de silenciar diante de situações que exigem que se nos expliquemos demais.
Sim, dizer não pode arder. Toda cura arde um pouco. Mas, depois, vem o alívio. O não dói hoje, amanhã já será lembrado como um ato de coragem, que representa um sim para conquistarmos nossa paz. Com o tempo, essa coragem se torna uma atitude natural, uma direção a ser seguida, por entendermos quando uma situação é tóxica e pede um “não” e que sustentar nossa coragem nos trará e nos fará crescer.
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